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O cicloativismo no Brasil, por Giselle Noceti Ammon Xavier


 
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3 - O conjunto de atores do cicloativismo no Brasil

O cicloativismo é conhecido na língua inglesa como "bicycle advocacy". Consiste de atividades que defendem os direitos dos ciclistas no uso da via pública, visando melhores condições para pedalar, e popularizar o uso da bicicleta como veículo (WIKIPEDIA, 2007).
Conforme explica Tom Goodefrooij, há 20 anos em cargos de coordenação da Fietsersbond (União de Ciclistas da Holanda), ex-presidente da ECF, European Cyclist's Federation, organizador do Velo Mondial 2000 Amsterdã; que participou da revolução da política de mobilidade da Holanda nos anos setenta e oitenta:
"a existência de grupos organizados de ciclismo data do final do século dezenove e inicio do século XX, com o CTC (Cycling Touring Club), no Reino Unido e a Dansk Cyclist Forbund, na Dinamarca, além da holandesa ANWB, que evoluiu como uma associação de motoristas, mas que foi criada como uma associação de ciclistas. Porém, o moderno cicloativismo, com um forte componente político, é na década de setenta que se fortaleceu" (GODEFROOIJ & RIJNSBURGER, 2007).

Jaap Rijnsburger, presidente da Fietsersbond de 1984 a 1994, acrescenta que essa foi formada em 1975, por grupos de meio ambiente, segurança vial e comunitários, mas que as atividades se iniciaram antes da sua criação oficial, no final dos anos sessenta (GODEFROOIJ & RIJNSBURGER, 2007).

Difícil precisar o início do cicloativismo no Brasil, e mesmo que assim fosse feito seria apenas uma das versões sobre o diversificado movimento que se iniciou na Europa. A falta de literatura sobre o tema do cicloativismo é muito grande. Lançarei mão de matérias publicadas em revistas, mas a maior parte do que aqui será exposto, foi obtido como comunicação pessoal, ou simplesmente relato, de quem está participando do processo.

Ulrich Jäger, presidente da Mobilciclo, de Curitiba, explica uma subdivisão que considera acontecer no movimento paranaense, e que eu diria pode ser tomada como geral para todo o território nacional:
"O cicloativismo na Capital paranaense pode-se dividir em o ativismo oficial e o não-oficial. As bicicletadas são consideradas ativismo não-oficial, pois não contam com nenhum apoio dos órgãos de trânsito ou da prefeitura de Curitiba, mas nem por isso devem ser consideradas "ilegais", pois contribuem, de uma forma mais radical, à conscientização da população sobre a existência da bicicleta como meio de transporte. O ativismo oficial, apoiado diretamente ou indiretamente pelos órgãos públicos da cidade, pode se dividir em três partes: (I) a organização de passeios ciclísticos pela prefeitura, lojistas do ramo, que ressaltam o aspecto lúdico e saudável da bicicleta; (II) a realização do Bike Night, o mais conhecido e freqüentado cicloativismo da cidade, evento que, desde 2000, reúne todas as quintas-feiras à noite, em torno de 100 a 250 ciclistas que, acompanhados por agentes de trânsito, fazem diferentes roteiros pela cidade a cada semana - o fato de estar junto aos automóveis (bem no horário de pico) conscientiza os motoristas; (III) o cicloativismo da ONG Mobilciclo, que tem a missão de representar e apoiar os ciclistas, iniciativas pró-ciclistas e/para o uso da bicicleta, promover a educação para a mobilidade por bicicleta e servir como canal de comunicação" (JÄGER, 2007).

Para dar a compreender as Bicicletadas, lanço mão da matéria de Fábio de Castro:
"Os objetivo do encontro, conhecido como Bicicletada, é reunir o maior número possível de ciclistas, lutar por mais espaço no trânsito, combater a cultura do carro e demonstrar que a bicicleta é a alternativa ideal para o transporte nas saturadas vias urbanas. Durante o trajeto, os ciclistas distribuem panfletos aos motoristas, com a intenção de mostrar que a bicicleta também tem direito ao seu espaço no mar de carros. O slogan "Nós não atrapalhamos o trânsito - nós somos o trânsito" resume a proposta dos manifestantes. "A própria presença do grupo de bicicletas entre os carros cria um conflito que, não sendo necessariamente agressivo, evidencia a disputa de espaço e a necessidade de melhores condições para quem usa o transporte não motorizado", afirma o jornalista Thiago Benicchio, participante do movimento há um ano e meio e criador do blog Apocalipse Motorizado. A Bicicletada é a versão nacional do movimento conhecido mundialmente como Massa Crítica (Critical Mass), que nasceu em 1992 na cidade norte-americana de São Francisco e hoje está presente em mais de 300 cidades de todos os continentes. "Importado" para São Paulo há três anos e meio, o movimento vai crescendo lentamente e já acontece também em Porto Alegre, Florianópolis, Brasília e Curitiba. "Dificilmente chegaremos à 'massa crítica', com centenas de ciclistas, mas é fundamental que a Bicicletada exista - ela leva o recado a um número significativo de motoristas", diz Benicchio" (CASTRO 2005b).

André Piva (2005a), repórter da revista Bike Action, ele próprio um aficionado e cicloativista, publicou Militância sob Duas Rodas - A Bicicleta como Símbolo de Respeito, onde escreve que desde que se iniciou a luta pelos direitos do ciclista, ainda na década de setenta, pouca coisa evoluiu. E pergunta "Será que a bicicleta tem espaço no nosso País?; Quais são as organizações e pessoas que lutam pelos direitos da bicicleta?; Onde estão as ciclovias brasileiras? Quais são as condições delas?" Milton Della Giustina, campeão de ciclismo competição nos anos setenta e oitenta, presidente da Associação dos Ciclousuários da Grande Florianópolis, VIACICLO, referiu:
"Nos anos setenta e oitenta, quando havia problemas de trânsito envolvendo a bicicleta, geralmente nós do ciclismo éramos entrevistados e nos fazíamos de cicloativistas, sem conhecer o termo ou área, era tudo a mesma coisa. Naquela época, o ciclismo competição tinha muito mais status e o trânsito era bem menos caótico" (GIUSTINA, 2007).

F. José Lobo (Zé Lobo), presidente da Associação Transporte Ativo - TA, informou que no Rio de Janeiro, já nos anos oitenta, logo após voltarem do exílio na Europa, Alfredo Sirkis e Fernando Gabeira davam os primeiros passos do cicloativismo brasileiro.
"Eles traziam uma outra cultura de lá e já queriam implantá-la por aqui. Nessa época, em 1984, houve a primeira Bicicleata, pedalada que vinha pela Orla do Flamengo e ia até o Leblon, liderada por ambos. Por alguns anos muito pouco ouvi falar de ciclovias ou cicloativismo até que em 1990 em uma corrida de MTB em Teresópolis, fui dar um depoimento à um repórter da Bicisport. Ali pela primeira vez percebi o que era o cicloativismo, o repórter era o Arturo Alcorta. Naquele dia ele me abriu os olhos para a bicicleta na cidade, que eu já utilizava, mas nunca tinha visto como um veículo!"

Com o boom mundial do MTB (Mountain Bike) e o crescimento das vendas de bicis no final dos 80, numerosos grupos de ciclistas começaram a aparecer, mas em sua grande maioria com um enfoque esportivo. Dalí sairiam ativistas como a Renata Falzoni e seu Night Bikers, em São Paulo, que já começava a reivindicar ao invés de apenas pedalar. Paralelo a isto aqui no Rio existia o ITC, Instituto de Tecnologia para o Cidadão, ONG que prestou consultoria para o governo na implantação das primeiras ciclovias na Orla, no inicio dos anos noventa, que era liderada pelo Ricardo Neves. Com ele vi um primeiro esboço do Desafio Intermodal e de outras ações mais no estilo Bicicletada. Após este período, alguns indivíduos isoladamente faziam a parte da sociedade civil buscando negociações com a administração da cidade.
Na virada do século o número de ciclistas tinha crescido muito por aqui e as necessidades também. Com a popularização da Internet, o contato entre os ativistas foi se aprimorando, o que impulsionou surgir a TA em dezembro de 2003.
Em seguida veio o 1º Encontro Nacional de Cicloativistas em Floripa, e pensamos ser a hora de saber o que se passava no resto do país e dizer o que estávamos fazendo. Para trocar e unir as forças. Foi exatamente o clima do evento, a coisa cresceu com o Fórum Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta e fora dele, as organizações passaram a se articular, trocar e crescer, veio o 2º Encontro em SP e a consolidação, movimentos fortes de várias regiões se unem para a criação da UCB - União de Ciclistas do Brasil (LOBO, 2007).

Desafio Intermodal
No início da noite de quinta, uma ONG do Rio de Janeiro promoveu uma corrida curiosa, com um objetivo nobre. Qual será o meio de transporte mais eficiente para enfrentar o trânsito na cidade: moto, ônibus, carro, metrô ou bicicleta? Centro do Rio, 18h. Vai começar uma corrida diferente. Uma corrida de obstáculos: os engarrafamentos. O destino é o Leblon, zona sul, 15 km. Cláudio vai de carro. Érica, vai de metrô. Sobrou para Carol enfrentar o ônibus na hora do rush. João vai de bicicleta e Carlos de moto. Na linha de chegada, nenhuma surpresa: o motoqueiro, 40 min., o ciclista, 48,5 minutos. Érica, que usou metrô e ônibus levou 1h e 20min. Cláudio, de carro, 1h e 13 min. Quem andou só de ônibus, 1h e 20 min. Jornal da Globo. Corrida na metrópole. Vídeo disponível. Quinta-feira, 31 de Agosto de 2006.
Disponível: http://jg.globo.com/JGlobo/0,19125,VTJ0-2742-20060831-240398,00.html

Arturo Alcorta, que organizou o 2o Encontro Nacional de Cicloativistas, em 2006, em São Paulo, onde foi decidido pela criação da União de Ciclistas do Brasil em 2007, escreveu:
"Este é o momento para criar uma entidade que de fato represente os ciclistas. Para bem da verdade, já passamos e muito do momento, mas agora há uma enorme diferença: tanto o poder público quanto o setor de bicicletas estão devidamente representados. Há o Bicicleta Brasil, do Ministério das Cidades; há inúmeros municípios que estão com a questão da bicicleta em andamento ou equacionado; e o setor privado se une no Instituto Pedala Brasil, que também tem espaço para a sociedade civil, mas tem um viés ligado ao setor. Falta uma entidade que seja representativa do ciclista, para o ciclista, para as vontades deste cidadão e indivíduo, e que seja completamente independente da coisa pública ou do mercado" (ALCORTA, 2006).
Arturo, cicloativista desde o início dos anos oitenta, que coordena a Escola de Bicicleta, foi Bike Repórter da Rádio Eldorado FM, de 1999 a 2001. Ele veiculava informações pela rádio enquanto pedalava, entre as 18 e as 20 horas, diariamente, pelas ruas de São Paulo (GUERRERO, 2004). Sobre essa experiência e o cicloativismo no Brasil, ele manifestou:
"Bike Repórter não vejo como cicloativismo, se bem que deu um resultado enorme neste sentido. O que fez sucesso é fato de que além dos boletins sobre o trânsito eu falava sobre a cidade, sobre a vida, pequenas coisas do dia a dia.
Quanto ao cicloativismo, aí é mais complicado. Creio que mesmo antes da minha apresentação do Projeto de Viabilização de Bicicletas como Meio de Transporte, Esporte e Turismo para o Estado de São Paulo (SP) para a Casa Madre Teodora (grupo que escreveu o projeto de Governo de Franco Montoro para o Estado de SP), Sérgio Bianco já tinha começado a briga dele. Mas quando se fala em cicloativismo, creio que seja algo mais organizado e aí entra a Renata com o Night Bikers. Mas essa é uma visão absolutamente unilateral, muito o que vivi. Se começou antes não sei" (ALCORTA, 2007).

Sérgio Bianco, era a mistura de dois atores em um, o técnico Arquiteto de projetos cicloviários e o cicloativista. Quando partiu para outra vida em 2006, liderava o grupo de trabalho GT Bicicleta, da ANTP, Associação Nacional de Transportes Públicos. Bianco, foi por muitos anos o único a levar artigos científicos sobre a bicicleta para os congressos de transporte. Aliás, cabe fazer a crítica de que ainda são pouquíssimos os trabalhos sobre o tema nos congressos da ANTP e da ANPET - Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes. Na matéria Contra caos urbano, bicicletas ganham espaço nas ruas e nas políticas públicas, também da revista eletrônica Agência Repórter Social, Bianco foi entrevistado:
Segundo o coordenador do Grupo Técnico (GT) de Bicicletas da ANTP, Sérgio Luiz Bianco, o caos no trânsito das grandes cidades e o preço do transporte público aumenta a demanda pela bicicleta, mesmo num contexto violentamente adverso. "Não há estrutura de apoio para o uso da bicicleta e a convivência no trânsito não é pacífica. Não há respeito e o ciclista ainda é visto como um louco. Mesmo assim é nítido que o número de ciclistas aumenta. O que assusta é que pode estar acontecendo uma revolução silenciosa e de repente teremos um salto no uso da bicicleta sem ter estrutura para isso", diz.
De fato a estrutura para o ciclista é diminuta nas cidades brasileiras. Dados da própria ANTP dão uma idéia da escala: o país inteiro tem 600 quilômetros de ciclovias em uso, enquanto a Holanda, com o tamanho equivalente ao dobro de Sergipe, tem 15 mil quilômetros (CASTRO, 2005c).

Em novembro de 1999, Antonio Miranda e Günther Bantel organizam o Seminário Bicicletas no Brasil, a Nova Realidade das Políticas Públicas, que aconteceu dentro do Salão das Duas Rodas. Nesse evento do Salão das Duas Rodas de 1999, conheci vários cicloativistas da Baixada Santista, talvez os mais antigos do Brasil, como Rubens Braga, presidente da CICLOSAN, Associação de Ciclistas de Santos. Bantel, que também é de Santos, é o presidente da SABICI, Sociedade Brasileira de Trânsito Amigos da Bicicleta, e havia sido o coordenador do Projeto Ciclista da Secretaria do Verde e Meio Ambiente da cidade de São Paulo, e foi, também, o representante do cicloativismo na comissão que incluiu artigos sobre a bicicleta no Código de Trânsito Brasileiro.
Também foi nesse evento que conheci Renata Falzoni, jornalista, cicloativista dos primeiros tempos do movimento, fundadora do Night Biker's Club do Brasil. Foi por intermédio desse grupo que muitos paulistanos se tornaram cicloativistas.

Na década de 70 Renata Falzoni utilizava a bicicleta como meio de transporte em São Paulo. Os passeios noturnos aconteceram quando Renata Falzoni escolheu a noite como sendo perfeita para pedalar, pois o número de veículos era reduzido. Em meados de 80 aquelas saídas noturnas não eram mais solitárias, Renata tinha companhia de vários amigos. Em 1989, estes passeios informais começaram a se expandir, e várias pessoas queriam pedalar nas condições de um Night Biker. Daí nasceu a idéia de criar o Night Biker's Club do Brasil, com o objetivo de fazer os passeios noturnos, fomentar o Mountain Bike no Brasil e difundir conceitos quanto a educação e a segurança do ciclista e da bike. Desde essa época, toda terça-feira, pontualmente às 21hs, sai um passeio pela cidade de São Paulo (NIGHT BIKER'S, sem data).

Em 1997, Günther Bantel e Antonio Miranda participam da Velo City, Conferência Internacional sobre o uso da Bicicleta, em Barcelona. Por influencia deles, fui ao Velo Mondial 2000 (Bantel também), em Amsterdam onde, entre muitos contatos produtivos, conheci Jeroen Buis, Engenheiro consultor da Interface for Cycling Expertise (I-ce), da Holanda. Ele e essa organização não governamental viriam a ter um papel fundamental no cicloativismo e na formação técnica brasileira no que se refere ao uso da bicicleta.
É interessante refletir que a falta de eventos específicos sobre o uso da bicicleta no Brasil, fez com que alguns se conhecessem fora do País. Foi o caso de Bill Presada, que vim a conhecer no Velo City 2001, em Edinburgo (Bantel participou também). Bill, que é presidente da Associação Bike Brasil, está nessa luta há mais de vinte anos e foi um dos mentores do projeto CICLO REDE, um mapa que consta de rotas mais seguras para pedalar pelas ruas de SP.
Bill sempre teve uma postura um pouco contra a luta por ciclovias, pois acredita que a segregação não é a solução e sim a educação e respeito no trânsito compartilhado.
Anos atrás, escrevi um artigo numa publicação especializada de aventura entitulado, "Falar é Fácil, Pedalar nem Tanto". Dez anos depois, posso dizer que houve uma sensível melhora na situação da bicicleta no nosso país. Não em termos de estrutura, mas sim em números. Ainda longe de ser o ideal, hoje já vejo mais ciclistas por todo lado - é a invasão da bicicleta nas ruas e vias de todas as cidades brasileiras. Numa clara declaração que não é preciso ter ciclovias, ciclofaixas, bicicletários, compartilhamento de transporte público, qualquer outra infra-estrutura ou de promessas feitas por aqueles que não entendem nada sobre o uso da bicicleta. Os ciclistas que hoje estão nas ruas sabem que na realidade a única razão para um indivíduo não usar a bicicleta é realmente não querer (PRESADA, 2004).

Em fevereiro de 2003, em São Paulo, a ANTP realizava o Seminário Pedestres e Ciclistas, com Ségio Bianco liderando o GT Bicicleta da ANTP, hoje com o nome de Comissão de Bicicleta, liderado por Bill Presada.
Cabe ressaltar o importante papel da ANTP, que vem auxiliando, ao mesmo tempo em que vem pressionando o Ministério das Cidades para que a política nacional de mobilidade urbana saia do papel e seja uma realidade nas cidades brasileiras.
Em 2005, coordenado pelo GT Bicicleta da ANTP, o prêmio da ABRADIBI (Associação Brasileira dos Fabricantes, Distribuidores, Exportadores e Importadores de Bicicletas, Peças e Acessórios), que premia o setor de produção e comércio de bicicletas e acessórios, desde 1997, no Salão Duas Rodas, passa premiar também as boas práticas urbanas e de estímulo ao uso da bicicleta, e se transforma no Prêmio ANTP-ABRADIBI. Na categoria melhor política de urbanismo o prêmio foi outorgado à Prefeitura Municipal de Aracaju, pelo Sistema Cicloviário de Aracaju; como melhor projeto de ciclovia foi premiada a Ciclovia de Pomerode (SC); o melhor programa de educação para ciclista foi concedido ao trabalho O Ciclista, produzido pela da Tecnodata, do Paraná. Na categoria melhor divulgação da bicicleta foi premiada a organização não-governamental Transporte Ativo, do Rio de Janeiro (ANTP, 2005).

O reconhecimento do cicloativismo pela ABRADIBI é um marco, pois há algum tempo os cicloativistas solicitavam ao setor produtor/comerciante maior apoio e reconhecimento ao movimento, conforme pode ser lido na matéria O setor produtor, o comércio das bicicletas e a luta política em favor de melhores condições para pedalar , publicada na revista Cyclomagazine (que tem como maior público o setor da indústria e comércio de bicicletas). O texto inicia assim: Se no mercado não é possível a união porque a concorrência é a base dos negócios, na luta política é preciso que o nosso partido (de todos que lidam com o setor) seja o "Partido das Bicicletas"; e segue com uma série de solicitações, entre elas, que apóiem os cicloativistas e que participem ativamente de uma associação de usuários da bicicleta (XAVIER, 2004).

A resposta foi a criação do IPB, Instituto Pedala Brasil, entidade civil sem fins lucrativos, que representa o setor da indústria e comércio da bicicleta e acessórios, em 2005 e reconhecido como OSCIP, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, em 2006, o que possibilitará às empresas patrocinadoras deduzir do imposto de renda, até o limite de 2% do lucro operacional. Participam do IPB representantes dos mais expressivos segmentos do setor, entre eles, representantes da ABRADIBI; ABRACICLO, Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares; e SIMEFRE, Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários, que são as associações de peso no mundo da indústria e comércio da bicicleta brasileira.

Em novembro de 2003, o Governo Federal reassumiria o papel de fomento a uma política nacional favorável ao uso da Bicicleta. O Ministério das Cidades, por intermédio da Secretaria Nacional de Transporte e de Mobilidade Urbana - SeMOb, chamava os diversos atores para a primeira, de uma série de reuniões abertas à comunidade, tendo sido convidados técnicos, cicloativistas e pessoal de governo.
A criação do programa Bicicleta Brasil, aconteceria no dia 22 de setembro de 2004, dia da campanha internacional "Dia sem Carros", em uma solenidade que contou com a presença de Ministros das Cidades, Meio Ambiente, Educação, e Cultura e Esportes. Aliás, cabe mencionar que essa campanha, chamada de Jornada Brasileira na Cidade sem meu Carro, é organizada, anualmente, pelo Rua Viva, Instituto da Mobilidade Sustentável, que vem sendo parceiro do movimento cicloativista.
A criação do novo programa do Governo Federal deu esperanças e levou José Carlos Aziz Ary a participar do evento Velo City Paris, em 2003 (do qual também participei), e apresentar os resultados do documento Planejamento Cicloviário: Diagnóstico Nacional, do qual foi autor com Antonio Miranda.
A partir de 2003, Viaciclo e grupo CicloBrasil da Universidade do Estado de Santa catarina UDESC, passam a fazer parte do programa internacional Locomotives, Low Cost Mobiility Initiatives, e da rede World Carfree Network, e utilizam-se destes apoios para impulsionar a união dos cicloativistas.

Importante ressaltar que a I-ce conta, em seu quadro de diretores, com cicloativistas holandeses que foram líderes do movimento nacional em seu País nos anos setenta e oitenta, ou seja, não apenas técnicos (Arquitetos e Engenheiros) consultores para projetos de sistemas cicloviários, mas cicloativistas que foram os atores das grandes mudanças da política de mobilidade holandesa, que fez com que suas cidades se tornassem exemplo de planejamento de sistema viário seguro não só para a bicicleta, mas para todos os modos de transporte. O apoio dos holandeses da I-ce ao movimento incipiente de organização do cicloativismo foi fundamental. Durante as missões holandesas do programa Locomotives ao Brasil, e com apoio destes, é que se realizou os encontros nacionais de cicloativistas de 2005 e 2006.

Em janeiro de 2005, apoiado pelo World Carfree Network, o cicloativismo teria um espaço no Fórum Social Mundial de Porto Alegre. No único stand de cicloativismo no Fórum, e talvez em todos os Fóruns já contecidos, o vice-presidente da Viaciclo, Luiz Bevacqua, em meio a banners de parceiros e de programas em que a associação estava inserida, ofereceu um local que se tornou o ponto de encontro dos ciclistas. "O stand da associação ficou em uma excelente área, no espaço temático F "Lutas Sociais e Alternativas Democráticas". No Fórum, Cristiano Hickel, cicloativista de Porto Alegre, chamou os cicloativistas presentes a se organizar e nascia o Fórum Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta, FBMB, a pedra fundamental deste desejo de se organizar em nível nacional e ter representatividade legal para reivindicar os direitos dos ciclistas. O grupo realizou a Bicicletada Social Mundial (PIVA, 2005b).

Durante os anos de 2004 e 2005, uma série de reuniões do programa Bicicleta Brasil foi realizada e técnicos, políticos, cicloativistas, representantes dos setores da indústria e comércio de bicicletas participaram dos seminários em Brasília. Na 2ª reunião, em 2004, os cicloativistas faziam parte do painel O papel da sociedade civil para o Desenvolvimento da Política deste modal e sua inserção na Mobilidade Urbana Sustentável. Na 5ª reunião nacional do Bicicleta Brasil, em abril de 2005, que se chamou Oficina Internacional Meios não motorizados para a Mobilidade Sustentável - Avanços e Oportunidades, houve a participação de palestrantes internacionais da Interface for Cycling Expertise, I-ce e do Institute for Transportation and Development Policy, ITDP. Em maio/junho de 2005, o Diretor de Mobilidade da SeMOb, Renato Boareto, participaria do Velo City 2005, em Dublin apresentando o programa Bicicleta Brasil, havendo grande interesse de entidades e programas internacionais na iniciativa brasileira. Eu também participei, bem como a Arquiteta responsável pelo planejamento cicloviário de Florianópolis, Vera Lúcia Gonçalves da Silva. Em março de 2006 eu também participei do Velo Mondial 2006.

Em julho de 2006, aconteceria em Florianópolis o primeiro curso de aprimoramento profissional, integrante do programa Bicicleta Brasil Qualificação dos Espaços para Ciclistas e Pedestres. Evento organizado pelo grupo CicloBrasil da UDESC em parceria com a Viaciclo, com apoio do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis, IPUF e da Prefeitura Municipal. Em seguida, de 31 de julho a 3 de agosto, aconteceria em Guarulhos o Workshop Internacional sobre Planejamento e Sistemas Cicloviários, organizado pela Prefeitura de Guarulhos, em parceria Ministério das Cidades, com apoio do I-ce, Banco Mundial, ITDP, GTZ (Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit), Movilization (programa internacional) e IPB.
Em dezembro de 2006, duas semanas de atividades de treinamento aconteceriam: o curso organizado pelo IPB, Programa de Apoio Municipal ao Planejamento Cicloviário, CICLOPAM, que ocorreu em Campinas; e a Semana de Mobilidade, organizada pela SeMOb, que ocorreu nas dependências do Ministério das Cidades. Neste ultimo, uma versão preliminar do novo manual de planejamento cicloviário, agora chamado de Caderno de Referência para a elaboração de Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades e do PLANMOB foi disponibilizada, em CD. Quero registrar, ainda, que professores da UnB - Universidade de Brasília, tem atuado como capacitadores dos cursos de gestão integrada da mobilidade urbana, que ocorreram em várias cidades, e da semana da mobilidade também.

Segundo Antonio Miranda (2006), nas iniciativas do Governo Federal para o setor a importância das Organizações da Sociedade Civil têm sido reconhecida. Para ampliar essa participação, espera-se que os municípios cumpram o seu papel de fomentar o surgimento dessa forma de manifestação e organização da sociedade. Se assim o fizerem, no futuro os governos locais terão aliados solidários e participativos nas ações a empreender em favor da bicicleta e da mobilidade em suas cidades.
Segundo Klaus Frey, referindo-se ao conceito de policy arena:
(...) as reações e expectativas das pessoas afetadas por medidas políticas têm um efeito antecipativo para o processo político de decisão e de implementação. Os custos e ganhos que as pessoas esperam de tais medidas tornam-se decisivos para a configuração do processo político. O modelo da policy arena refere-se portanto aos processos de conflito e de consenso dentro das diversas áreas de política(...)

Portanto, (é com algum orgulho que) apresento a justificativa da convocação da (futura) UCB, que está sendo veiculada pelas listas de discussão, e oferece formulário de adesao, que pretende estar disponível em revistas e lojas do setor por todo o Brasil, em breve.
Há alguns anos o assunto bicicleta vem se tornando cada vez mais presente em todos os cantos de nosso país. Neste período, várias organizações vêm se formando com o objetivo de defender e promover a bicicleta, bem como um planejamento cicloviário de qualidade para as cidades. Muitas dessas organizações têm alcançado resultados superiores aos esperados e já conquistaram o respeito e até parcerias com as administrações locais. Há dois anos foi lançado pelo governo federal o programa Bicicleta Brasil que visa incluir a bicicleta no dia a dia da mobilidade de nossas cidades. Logo em seguida, para participar mais efetivamente deste movimento, as indústrias do setor e montadoras se uniram em uma entidade nacional chamada Instituto Pedala Brasil ou IPB. Fez-se então necessária a participação formal e organizada do maior interessado no sucesso deste processo, o ciclista. Com essa finalidade está em andamento a fundação da União dos Ciclistas do Brasil, UCB, cujo objetivo será participar efetivamente junto ao governo federal e ao IPB do processo de promoção ao uso de bicicletas no país (UCB, 2007).

Em Brasília, Denir Miranda recebe e arquiva as adesões à UCB. Cicloativista com grande capacidade de integração das diferentes correntes do movimento e negociação, é muito participativo das listas de internet, sendo uma fonte de informação. Seus relatórios são claros e sua sensibilidade traz leveza ao movimento, conforme se observa na mensagem:
Ontem foi o primeiro dia do projeto "Rodas do Eixo", aqui em Brasília. Este projeto foi idealizado por mim, para a Rodas da Paz, e tem como objetivo estar presente no "eixão do lazer" todo primeiro domingo de cada mês, em campanha para conscientização dos CICLISTAS (eixão do lazer é o mesmo "eixão da morte", só que aos domingos fica aberto a ciclistas e pedestres e fechado para carros: uma via de seis pistas e 13km de extensão, são muitas centenas de pedestres e ciclistas). Distribuímos muitos panfletos. Várias pessoas pararam para conversar, umas para saber o que fazíamos, outras pra trocar idéias e algumas pra desabafar. Sim, desabafar, como um senhor de 60 anos ou mais, que reclamou muito das atitudes dos ciclistas no trânsito, sobretudo o fato de não respeitarem os pedestres. Mesmo estando um tanto quanto agitado e nervoso, ele não foi grosseiro em nenhum momento. Acho que contribuiu o fato de ficarmos do lado dele e dizermos que estávamos ali justamente numa campanha para ciclistas. Ele até agradeceu pela oportunidade de desabafar....(MIRANDA, D., 2007).
(Associação Rodas da Paz www.rodasdapaz.org.br - Paz no Trânsito com enfoque no ciclista)
 


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